Wickert: Berlim é a cidade em que eu mais gostava de viver porque é uma metrópole - o que será que torna uma cidade numa metrópole? Em primeiro lugar, devido à sua cultura internacional. E eu gosto da cidade "quebradas" porque assim vai crescer algo novo e as pessoas querem experimentar algo novo. Aqui existem jovens chineses, jovens russos, rapazes jovens franceses que sentem que vão encontrar um novo espaço e liberdade para criar algo novo, o que nas outras cidades não é possível.
Wickert: Encontrei uma biografia muito fascinante deste rapaz porque ele cresceu com a sua própria identidade desde uma idade jovem. Ele disse: "quero ser diferente das outras pessoas... e sou assim mesmo que as outras pessoas me odeiem por isso." e eu acho isso muito fascinante mesmo.
Bill: Para mim Ulrich Wickert é... isso quando eu tinha 16/17 anos, quando ele fazia o "tagesthemen" e claro, na altura, eu não via. Mas, claro, ele é muito bem conhecido e é uma pessoa da minha geração. Ele é muito bem conhecido e tinha um trabalho muito importante nessa altura... e sentes sempre que ele se comprometeu às coisas, aos temas em que ele trabalha. Ele não tinha sido um senhor aborrecido a dar as notícias mais recentes e podias sempre entender e perceber o que ele explicava. E eu nunca senti que ele fosse apontar o dedo às pessoas. Especialmente, a minha família ficou muito animada e feliz quando lhes disse que ia conhecer Ulrich Wickert e que íamos passar o dia juntos. Suponho que nunca iria conseguir mais do que um parceiro de diálogo. Assim, estou feliz por ter a oportunidade de o conhecer.
Bill: Este hotel é o hotel onde ficamos sempre quando estamos na Alemanha. E parece mesmo que estamos na nossa própria casa.
Wickert: Uma vez ficaste aqui durante três meses depois da tua cirurgia?
Bill: Exactamente. E depois quando voltei... Não estive aqui por muito tempo e eles pensaram que me tinham feito um favor se me tivessem dado o mesmo quarto que tinha antes. Mas quando entrei no quarto, pensei "Oh não, tenho de sair daqui" porque o tempo que tinha passado naquele quarto foi, provavelmente, o momento mais stressante e o pior da nossa carreira. Isso foi quando perdi a minha voz e isso também era uma grande pressão para mim, psicologicamente Estávamos muito ansiosos acerca do que estaria para vir e como tudo ia correr.
Wickert: O que é que se tinha passado exactamente na tua voz?
Bill: Tinha uns quistos nas minhas cordas vocais e já não conseguia nem cantar um tom. A voz tinha desaparecido completamente.
Wickert: Oh Deus... e como é comunicavas então? Escrevias notas?
Bill: Sim, tinha pequenas notas que eu escrevia... e claro, o meu irmão esteve sempre lá para me ajudar porque isso é tão especial entre nós... basta olhar para a minha cara, para saber exactamente o que eu queria dizer. Por isso, ele era uma espécie de intérprete para mim.
Wickert: Então, o teu irmão é o parceiro perfeito para ti?
Bill: Absolutamente, quero dizer, sim. Isto é uma parceria muito especial e constante em toda a nossa vida, sim.
Wickert: E como é descreverias ambos vocês. Algum de vocês é mais fraco e o outro é mais forte?
Bill: Bem, penso que nos complementamos um ao outro. Quero dizer, ele tem... ambos nós temos as nossas fraquezas e, na verdade, damos impulsos um ao outro se um de nós estiver com falta de energia... o outro vai ajudar e dar força.
Bill: Este é um estúdio muito famoso e o quarto de gravações onde artistas muito famosos já gravaram, como David Bowie.
Wickert: Tinha uma questão na minha mente... todas as pessoas têm a sua identidade. A identidade cresce através das coisas que experiencias, onde tu nasceste... e através da linguagem e das coisas que ouves, ou tu aprendes através da tua família. E tu começaste a desenvolver a tua própria identidade quando tinha 8/9 anos. Como?
Bill: Bem, Tom e eu éramos sempre muito semelhantes até aos 6/7 anos de idade. Até essa altura, éramos iguais, usávamos a mesma roupa e tínhamos nomes nos nosso pulôveres para que as pessoas no jardim de infância ou os professores pudessem ver quem era quem. E depois disso, crescemos um pouco à parte e tínhamos interesses diferentes, o gosto musical era diferente, Provavelmente, isto aconteceu porque quando tens um gémeo, são sempre conhecidos como "os gémeos". Frequentemente, as pessoas não nos chamavam pelos nossos nomes mas sim por "os gémeos". E provavelmente, esta foi a razão de termos uma personalidade individual e de nos desenvolvermos de uma forma extrema. Ele parecia muito extremo e eu parecia muito extremo. E então, em conjunto chamávamos muito à atenção. E, claro, não fomos pela forma mais simples. Mas para mim, eu encontrei, com uma idade muito jovem, a liberdade nas coisas que eu fazia. Sempre tive um pequeno rebelde dentro de mim... e ainda o tenho, que quer ser livre por completo e também na sua música. A liberdade é muito importante para mim. Já era assim quando era muito novo.
Wickert: Bem sim, a liberdade é algo também tão importante e impressionante no meu ponto de vista. Mas eu suponho que sentes a urgência em ser diferente porque as pessoas não te deram a liberdade, certo?
Bill: Bem sim... um vai ser sempre tratado de uma forma injusta. E, na verdade, sempre escolhi o caminho mais complicado... desde que me sentisse certo, queria que as pessoas aceitassem isso. Isto já tinha começado na escola. Tínhamos bastantes problemas na escola... Odiava mesmo ir lá todas as manhãs. E se eu olhar para trás e apercebo-me que escolhi ser extremo, mas desde logo que os professores e as outras pessoas diziam "Ele não pode vir à escola com maquilhagem nos seus olhos, isso não é bom", no próximo dia eu ia com uma maquilhagem ainda mais escura e o meu cabelo ficou mais preto. E assim fomos de um extremo para o próximo... e nós não facilitámos muito para nós próprios. Mas esta era a minha urgência... eu quis ser diferente. Eu sempre tive boas notas nas escola, o que eu queria... mas queria ser tratado como os outros.
Wickert: Se eu conhecesse algumas pessoas que estavam furiosas, eu cortava relações com elas e não queria tentar de novo. Por isso, às vezes tenho uma personalidade muito radical... mas talvez porque eu me queria proteger.
Bill: Sim, e penso que todos estão à procura de uma pessoa que tem o mesmo sistema de valores. E mesmo se conheceres alguém e, no começo, pensares que "pode" resultar e depois apercebes-te que não resultou. E no fim, penso que uma parceria - privada ou em negócios - tens de encontrar alguém com quem te dês bem com os mesmos termos.
Porque senão não funcionava. Enquanto tiveres pessoas que te odeiem, podes ter a certeza que também vai haver pessoas que te amam... e assim sabes que tudo o que fazes está certo. Se alguém toma a sua liberdade para expressar o que quer e o que ama, então as outras pessoas não vão permitir a si próprias e aí estão os extremos que estão muito próximos uns dos outros. O meu sentimento sempre foi que tudo o que eu faço está certo, desde que algumas pessoas te odeiem e eu sempre me dei bem com isso, porque no fim do dia, isso faz com que te desenvolvas, de alguma forma.
Tradução: THTFJB
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