Crescidos em Magdburgo, uma cidade no norte da Alemanha, os gémeos Bill e Tom Kaulitz fundaram a sua primeira banda Black Question Mark quando ainda nem sequer tinham 10 anos. 2001, uns anos mais tarde, eles conheceram o Gustav Schäfer e o Georg Listing numa actuação e começaram a fazer música juntos enquanto banda chamada Devilish, que em breve mudaria de nome para Tokio Hotel. Um produtor de música descobriu-os num concerto local e quando eles lançaram o seu primeiro álbum em 2005, os Tokio Hotel foram contratados pela Universal Music Group. O tiro da banda para o sucesso: O álbum "Durch den Monsun" foi imediatamente para primeiro lugar nas tabelas alemãs e o álbum "Schrei" vendeu 1,5 milhões de cópias por todo o mundo.
Em 2007, os Tokio Hotel fizeram uma tour pelo mundo inteiro com o seu segundo álbum "Zimmer 483". As salas de concerto eram enchidas com choro e gritos adolescentes, os fãs de países estrangeiros começaram a aprender alemão, as raparigas faltavam à escola e desmaiavam quando viam os rapazes. Ou adoravas os Tokio Hotel ou os odiavas, não havia meio termo.
Mas, o sucesso da banda também teve os seus lados negativos. Especialmente, o Tom e o Bill não conseguiam sair de casa sem segurança, ir à escola tornou-se impossível e os paparazzi seguiam-nos 24/7. Quando os gémeos regressaram a casa depois do seu 21º aniversário, ao descobrirem que alguém lhes tinha assaltado a casa e revistado os seus closets, eles finalmente decidiram deixar a Alemanha e mudar-se para Los Angeles para irem descansar.
Quatro anos mais tarde, o quarto álbum dos Tokio Hotel, "Kings of Suburbia", foi lançado em Outubro de 2014. Os rapazes não consideram "estar de volta" porque eles nunca foram realmente embora, mas estiveram aptos para recargar as suas baterias e agora ir de novo em tour em março de 2015 com a "Feel it All".
Muito obrigado por nos receberem! Desde o vosso último álbum lançado em 2009, muito mudou. Como é que foi o processo de gravar desta vez de um modo diferente?
Bill: Acho que a principal diferença entre todos os álbuns anteriores e este álbum é que produzimos tudo por nós próprios. Primeiro que tudo, tínhamos um estúdio em casa, algo que nunca tivemos antes. E não tínhamos um tempo limite - estávamos apenas a escrever e a fazer música sem que esta tivesse que estar pronta até uma certa altura. Fomos capazes de fazer o que amamos e de fazer um álbum com o qual estamos completamente confortáveis.
Tom: Sinto que tudo mudou! O nosso primeiro álbum saiu há dez anos. Depois, nessa altura tínhamos quinze anos, agora temos vinte e cinco... a banda toda desenvolveu-se... Mudámos na forma de produzir, escrever e tocar música. Mudámos como artistas, como pessoas. Acho que o único rapaz que não se desenvolveu de todo foi o Georg... (risos)
Georg: Ainda estou fresco.
Tom: Ainda és o baixista. Mas, à excepção disso, tudo mudou...
Bill: Mas de forma natural!
Tom: E deve ser assim. Seria terrível se não tivéssemos mudado durante estes 10 anos e ainda fizéssemos música da forma como fazíamos quando o "Schrei" foi lançado.
É óptimo saber que conseguiram manter-se juntos. O que é que vos une enquanto banda?
Bill: Acho que é o facto de que crescemos juntos. Já éramos amigos e conhecemo-nos porque vivíamos numa pequena cidade. Éramos os únicos músicos jovens lá!
Tom: E antes dos Tokio Hotel, há 5 anos que já éramos uma banda!
Bill: Porque já nos conhecíamos há muito tempo e éramos bons amigos, somos mais do que uma família. Nunca chegámos ao ponto de lutarmos terrivelmente, respeitamo-nos uns aos outros e as nossas diferenças. Somos como irmãos e conhecemos cada um de nós muito bem... e acho que é esse o porquê.
Durante o vosso tempo na Califórnia, tiveram outras ocupações artísticas?
Tom: Apenas nos concentrámos na nossa música. Mas, só porque eu e o Bill nos mudámos para Los Angeles, todos nos perguntam: "E como é que é agora com a banda?". Mas acho que só se consegue fazer algo assim quando se se é muito próximo - separar-nos nunca esteve sequer em cima da mesa. Nunca quisemos fazer mais nada. O Bill está muito dentro da moda, mas à excepção disso, a música sempre foi a nossa prioridade.
O estereotipo de L.A. é os vegetarianos serem super obcecados com a saúde e estarem super dentro da linha. Confirmam?
Tom: Definitivamente.
Bill: Às vezes, sinto-me um viciado europeu [euro junkie] quando lá estou. Todos são tão saudáveis! E nós bebemos, fumamos, não nos exercitamos e comemos muita comida de plástico, é de loucos. Lá, as pessoas vão muito cedo para a cama!
Berlim é completamente o oposto...
Bill: A vida não seria tão fácil aqui, mas amo imenso Berlim.
Tom: De todas as cidades na Alemanha, definitivamente que viveria em Berlim. Estou a pensar em arranjar um lugar aqui.
Bill: Agora que já não moramos mais na Alemanha, aprendemos mesmo a apreciá-la.
Já experienciaram muitos choques de mentalidades em L.A.?
Bill: L.A é linda - mas às vezes muito falsa e duvidosa. Mas, como alemães, fomos criados para ser super pontuais e chegar sempre a horas. Mesmo no trânsito infernal de L.A.! É uma coisa típica alemã... mas é exactamente por isso que os americanos adoram imenso os alemães.
Qual é que foi o vosso momento favorito de L.A.? E qual lugar é que consideram ser a vossa casa?
Bill: Acho que nos podíamos mudar para qualquer sítio no mundo amanhã... e desde que tenha o meu cão, o meu irmão e a minha família, esse lugar vai ser uma casa para mim. Crescemos a viajar, eu e o Tom tivemos o nosso primeiro apartamento quando tínhamos apenas quinze anos! E depois voltámos à estrada durante tanto tempo... Sinto-me em casa muito facilmente. Mas, por agora, diria definitivamente que é Los Angeles.
Tom: Mas isso não tem nada a ver com lugares, é a sensação.
Bill: Adoro a liberdade lá! Isto influenciou imenso o álbum todo, viver uma vida que era normal comparada à nossa vida na Europa. Conseguíamos sair, tomar café... estávamos apenas a divertir-nos, a viver a vida, a ganhar inspiração.
Acredito que isso possa ter sido muito refrescante.
Bill: E foi! Foi tão fixe. A primeira vez em anos em que podíamos estar simplesmente por conta própria.
Mas quando agora voltam à vossa terra natal Magdeburgo - como é que isso vos faz sentir?
Bill: É muito estranho. Lembro-me que da primeira vez que voltei, fez-me sentir como se fosse uma vida completamente diferente. Mudámos tanto... tudo parece mais pequeno. Mas isso talvez seja por sermos maiores agora. É definitivamente estranho.
Tom: Mas, isso é o mesmo para todos - qualquer um que se mude para uma cidade completamente diferente e que tenha começado uma nova vida deve sentir-se da mesma forma ao ir para casa.
Bill: Apenas não tenho ligação à cidade - nunca a tive, mesmo quando vivia aqui. As pessoas mostravam muito orgulho local, torciam pela escola e essas coisas todas. Eu nunca o quis fazer - sentia que não pertencia.
Tom: Embora seja diferente para o Gustav e para o Georg, eles ainda vivem aqui.
Georg: Sim, nós os dois ainda vivemos em Magdeburgo.
Já alguma vez sentiram algum tipo de desconexão? Vocês mudaram muito, mas o lugar manteve-se o mesmo?
Georg: Mais ou menos... (o Tom começa a rir) mas viajamos muito, por isso para mim é uma boa experiência para espairecer, relaxar. Passo muito tempo com a minha família, passeio o meu cão. É um equilíbrio perfeito.
A nossa época está a torna-se cada vez mais digital. Como é que lidaram com a expansão das redes sociais, querendo vocês esconderem-se um pouco?
Bill: No início, não éramos muito disso. Não tínhamos facebook, twitter, nada. Para dizer a verdade, até que tinha uma pequena esperança que isso fosse embora outra vez.
Tom: Eu também. Tinha esperança que isso fosse apenas uma fase.
Bill: Sentimos muita necessidade de proteger os últimos fragmentos da nossa privacidade. Simplesmente não conseguia perceber porque é que todos davam algo tão importamente tão facilmente. Mas isto teve que mudar - hoje em dia tem que se entrar nisso, por isso enfrentámos isso e aprendemos a desfrutar um pouco disso. Há muitos lados positivos nas redes sociais. É uma maneira muito directa de se conectar aos fãs directamente, comunicar sem que os meios de comunicação social se metam no meio e acho que isso é óptimo. Hoje em dia, uso muito o Instagram. Mas ainda temos os nossos limites - algumas pessoas postam coisas que simplesmente nem consigo acreditar.
Quando os Tokio Hotel começaram, todas estas plataformas praticamente não existiam. Estão orgulhosos por ter sido este o caso, considerando especialmente ao facto de terem perdido a privacidade tão rapidamente?
Tom: Definitivamente.
Bill: Bem, quando começámos, todas estas coisas eram muito novas. Mas com os projectos como a Tokio Hotel TV, nós fomos umas das primeiras bandas a ter um podcast diário. E definitivamente que isso ajudou. Mas hoje, é apenas muito difícil! Há imensas pessoas a partilhar a sua música e os seus talentos agora, que acho que é quase impossível ser uma estrela do Youtube.
Tom: Isso tornou-se tão grande - que faz parecer ser mais difícil a todos. Há dez anos, quando actuámos no Japão, pensámos para nós mesmos: "Se dermos cabo disto tudo, ninguém na Europa vai saber". Mas agora se o fizermos todos vão ficar a saber muito rapidamente!
Bill: Exactamente! Se fizermos algo em palco e, depois, depois do espectáculo ligar o meu telemóvel - e já está em todo o lado. É de loucos.
Tom: Há lados positivos, mas depois definitivamente que há os negativos. No geral, tudo se tornou mais complexo. Com a promoção do nosso novo álbum, também tivemos que considerar isto. A televisão da música já não existe mais acho eu, as redes sociais substituíram-na.
Embora isso não nos afecte profissionalmente - acham que isso vos afectou como pessoas, não como músicos? Como é que lidam com as relações pessoais?
Bill: Isso não me mudou de todo, acho eu. Ou mudou? (Ele olha à volta. Os outros membros abanam a cabeça.) O Tom é muito antiquado no que diz respeito a telemóveis, ele quase que nunca mexe nele e apenas manda mensagem ou telefona. Ele nem sequer tem aplicações ou segue blogues.
Tom: Vou fazer disto uma oportunidade para promover o meu Instagram. É "Tom Kaulitz" e ainda não postei nenhuma foto - mas o meu objectivo é ter mais seguidores do que o resto da banda, mesmo sem postar uma foto. Se conseguir atingir o objectivo, talvez poste finalmente algo.
Georg: Só uma foto.
Dado que a vossa fama veio muito cedo e muito depressa - sentem que perderam algumas experiências? E há alguma experiência que vos faça sentir orgulhosos por a terem perdido?
Bill: Apenas vivemos uma vida completamente diferente - estou muito orgulhoso por não ter que ir mais à escola, porque estudar, para mim, era o pior e só queria sair de lá.
Tom: Eu também - levantar muito cedo pela manhã, ir para a escola num dia chuvoso... Estou muito orgulhoso por ter perdido isso.
Bill: Mas, por outro lado, estávamos sempre protegidos. Apenas tínhamos um pequeno grupo de pessoas que confiávamos e com as quais interagíamos. E tivemos que assumir responsabilidades muito cedo - pensei que já tinha idade suficiente para lidar com isso e queria controlar tudo. Mas, olhando para trás, definitivamente que devia ter esperado um pouco mais, talvez toda essa responsabilidade fosse demasiada. Se pudesse voltar atrás, teria feito as coisas diferentes. Tivemos que crescer muito depressa.
Disseram anteriormente que lidam muito cuidadosamente com a internet - acham que isso possa distanciar-vos de toda a pressão que tiveram ao crescer?
Bill: Um pouco, sim. Estamos definitivamente a tentar distanciar-nos, mas é difícil. Isto é uma coisa muito pessoal, em que tu disponibilizas a tua própria história para todos verem... também há muito ódio.
Tom: É difícil confiar nas pessoas - voltando atrás no tempo, tu dirias algo a alguém e isso sairia no jornal no dia seguinte. Tivemos muito cuidado - cada bebida que bebíamos, cada rapariga com que dormíamos... percebemos que tínhamos que nos proteger. E ainda nos protegemos hoje.
Lembro-me que havia muitas reacções negativas - quase bullying. O que é que diriam a essas pessoas agora?
Bill: Tenho que dizer - desfrutei um pouco disso. É melhor as pessoas terem uma opinião negativa do que não terem opinião de todo. Mas quando olho para trás, às vezes penso "Talvez me tivesse vestido de forma diferente." Mas nunca forcei nada - isto apenas aconteceu naturalmente. Mas foi muito importante para nós provarmos às pessoas, especialmente com o segundo álbum. Tivemos que mostrar a elas que não éramos apenas um sucesso momentâneo, que realmente conseguíamos tocar os nossos próprios instrumentos e que conseguimos fazer isso enquanto banda. E acho que conseguimos.
Bill - sempre te expressaste. Mas, hoje, muitos dos teus traços característicos já não são mais aceites, mas celebrados. Achas que isto permite seres mais tu mesmo? E como é que enquanto banda lidam com isto?
Bill: Acho que nunca me encaixei. É por isso que odiava ir à escola... Preciso de ser livre, odeio quando as pessoas me dizem o que fazer. Mas também não faço sequer - é importante que as pessoas se possam exprimir, não importa como. Nunca diria ao Georg o que vestir ou algo assim do género.
Mas há sempre alguma negatividade - como é que se protegem?
Tom: A cada dia que passa, as pessoas celebram cada vez mais a individualidade. Mas nunca tivemos esse problema no nosso grupo. Olhamos uns pelos outros, protegemo-nos uns aos outros. O Bill expressou-se numa tenra idade, tipo muitas pessoas nunca o fariam, e às vezes isso precisava de protecção. Sempre nos tivemos um ao outro e isso ajudou imenso. Não sei onde é que estaria sem ele.
Bill: Sinto-me sempre seguro quando estou com os rapazes... Nunca tive medo.
Tom: E acreditem em mim, às vezes era assustador. Às vezes, o público reagia muito mal mesmo, ainda era pior quando ainda éramos mais novos.
Bill: Eles atiravam-nos ovos!
Tom: Mas isso sempre foi a nós os quatro, juntos. Mas, claro, os nossos fãs também nos ajudaram. Precisávamos deles também. O Bill é muito virado para a moda, mas à excepção disso, a música sempre foi a nossa prioridade.
O ficarem juntos, o olharem uns pelos outros, o fazerem sempre o que quisessem, independentemente do quê - a imagem dos Tokio Hotel tornou-se um sinal de esperança para as pessoas que sofreram bullying. Para aqueles que eram marginalizados, para as pessoas que se vestiam de forma diferente. Isto deve orgulhar-vos imenso!
Bill: Sempre que vejo isso, mesmo hoje, isso faz-me tão feliz. É a coisa mais fofa - para inspirar as pessoas, para fazer com que sejam elas mesmas. Isso toca-me muito - porque é exactamente o que quero fazer.
Mas mesmo assim não conseguem chegar a toda a gente. Às vezes magoa-vos que haja por aí pessoas que querem muito entrar em contacto com vocês e simplesmente não conseguem chegar a vocês e vocês não conseguem chegar a elas?
Bill: Não quero partir o coração a ninguém. E isso às vezes é muito difícil, sim. As pessoas gostam de ti, provavelmente admiram-te... e eu nunca vou conseguir conhecê-las, mesmo que se eu quisesse. E isso consome muito.
Mas têm uma mensagem para todos os que aí andam?
Bill: Estamos ansiosos pela tour e ansiosos por ver todos vocês outra vez, tocar em recintos mais pequenos. Vai ser fantástico!
Estão orgulhosos por estarem de volta?
Bill: Estamos muito orgulhosos por estarmos de volta! (Os outros acenam com a cabeça entusiasticamente.)
Tradução: CFTH
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