Só na Alemanha, os Tokio Hotel já venderam mais de três milhões de discos. Amanhã tocam no Pavilhão Atlântico e no dia 1 de Junho no Rock in Rio Lisboa. As fãs portuguesas aguardam com devoção.
Como reconhecer uma concentração de fãs dos Tokio Hotel no meio do Parque das Nações? «Entrámos há pouco no McDonald’s e toda a gente olhou para nós como se fôssemos um atentado», queixa-se uma das presentes. Não há razão para alarme: é apenas um grupo de 70 raparigas inofensivas, maioritariamente vestidas de preto, com uma disposição radiosa que não as faz passar por góticas.
Na mesma tarde, concentraram-se 50 fãs no Algarve e 200 no Porto. Ainda não é dia de concerto, mas sim uma celebração organizada pelo clube de fãs, alojado no site http://street-team-th-pt.blogs.sapo.pt .
A banda alemã, campeã de vendas em toda a Europa (30 mil discos e DVD’s em Portugal) e capa favorita das revistas juvenis, canta com embalo de rock melódico os «problemas dos adolescentes – amor, desilusões, suicídio, desgostos» mas sempre com uma «mensagem positiva», garantem as fãs. À primeira vista, estas adolescentes - que combinaram encontrar-se no Parque das Nações para se conhecerem, partilharem e promoverem a devoção pela música dos Tokio Hotel – não denunciam nenhum desses problemas sob o sol de Inverno. Cheira à alegria da hora do recreio.
Entre os guinchos e os refrães cantados num alemão incompreensível, só há desacordo quanto ao mais bonito da banda: será o descontraído guitarrista de rastas Tom Kaulitz? Ou o seu irmão gémeo, o maquilhado e meticulosamente despenteado vocalista Bill? Os ânimos agitam-se com o gravador à frente: «O Tom é O lindo, é O deus, é O perfeito!», diz Andreia, 18 anos. «São os quatro homens mais lindos do mundo», diz Rita, 19, para uma plateia desavinda que se reconcilia com um aplauso. Quando a discussão entra nestes termos, os dois únicos rapazes desaparecem. «Os rapazes têm a mania que os Tokio Hotel são gays, por isso têm vergonha de gostar.», esclarece uma voz na multidão.
Elas garantem que não. E até sabem de cor os nomes das suas ex-namoradas. Sabem tudo ou, pelo menos, «tudo o que eles querem que a gente saiba». Apesar de as fãs defenderem a autenticidade, os Tokio Hotel continuam a ser alvo de suspeitas e acusações: dizem as bocas da reacção que são um produto para vender. É que, nestas coisas do rock, não basta falar do «sistema» e da «sociedade», esses inimigos a que as raparigas apontam o dedo saído de uma luva de rede. É preciso convencer que se é rebelde – e com causa. Não como os meninos mal comportados dos Morangos com Açúcar.
Mas os Tokio Hotel não convencem toda a gente: chegaram ao topo demasiado jovens, fruto da descoberta de um produtor com muita visão, ajudados por compositores experientes e uma pujante máquina de marketing que continua a fazer render os três álbuns editados – dois em alemão (Schrei e Zimmer 483) e um em inglês (Scream) – e que os leva agora à conquista da América. Falta conquistar os colegas da escola. Mas a estratégia é outra: «Uma vez estava a ouvir os Tokio Hotel e um colega começou a gozar com eles. A única coisa que me lembrei de fazer foi dar-lhe um mega-estalo na cara! É que além de gozar com a banda, gozou comigo também, caraças!». O corajoso testemunho é recebido com uma ovação.
A ver o bulício ao longe, estão alguns pais. São poucos e vêm olhar pelos membros mais jovens do clube de fãs (a mais nova tem 11 anos). As filhas queixam-se em segredo: «Os meus pais dizem que sou doente mental»; «O meu pai diz que sou satânica»; «A minha mãe quer internar-me»; «A minha está farta de gastar dinheiro em revistas»; «Os meus pais dizem que tudo o que me acontece de mal é culpa dos Tokio Hotel – como a negativa a Físico-Química».
Mas os pais, no seu canto, acabam por deixar cair a máscara da autoridade: «É muito mais saudável elas estarem aqui, se nós estivermos ao pé delas, do que estarem a fazer outra coisa qualquer. O principal é terem o acompanhamento dos pais e dosear as coisas: uma é a escola, outra é os Tokio Hotel», diz a mãe da rapariga de 11 anos. Outros pais não têm o mesmo bom senso e acabam por ouvir o que não querem, como conta uma das jovens: «Uma vez, o meu pai perguntou-me quem é que eu preferia que morresse: ele ou o Tom. Ele tem crises de ciúmes horrorosas». A resposta vem em jeito de falácia: «Se estivesse chateada com o meu pai, não falasse com ele e o odiasse para o resto da vida, preferia que vivesse o Tom. Se não, não saberia quem havia de escolher».
A presença de uma jornalista chega a atrapalhar o cumprimento dos objectivos do encontro: fazer um símbolo humano, cantar num concurso de karaoke improvisado em cima de um muro e distribuir panfletos pelo Parque das Nações, como quem espalha a palavra da sua religião. Tudo filmado para ser colocado online e, quem sabe, visto pelos seus ídolos. Vanessa, 16 anos, é um dos membros do staff. É portuguesa, mas vive na Bélgica, e já os viu em concerto duas vezes. Acredita que foi por sua iniciativa e de uma amiga algarvia que os Tokio Hotel passaram por Portugal em Dezembro para promover o disco na SIC. «Mandámos e-mails à SIC, TVI, RTP, Bravo, Cidade FM, Best Rock FM e para o site oficial para que eles viessem a Portugal». E, agora que se aproxima a próxima vinda da banda, tem um sonho: entrevistá-los.
Todas querem chegar à fala com os seus ídolos. Tocar-lhes. Sobretudo, convencê-los de que os amam mais do que ninguém.
Nos postes do Parque das Nações, desenharam corações, escreveram declarações em alemão, casaram os nomes com os membros da banda: «Rita + Tom», «Ana + Bill», competindo pelo amor eterno, «für immer».
Algumas já conseguiram um aperto de mão, uma piscadela de olho, na última passagem da banda por Lisboa.
Mas desejam muito mais do que isso e chegam até a comprometer os namoros. Alguém denuncia uma rapariga com ar sossegado que terá acabado com o namorado por causa dos Tokio Hotel. «A certa altura, já não suportava o meu namorado e só pensava no Tom. Ele também já não suportava ouvir-me falar do Tom. Cheguei a tratá-lo por Tom sem querer», confessa.
Aos 19 anos, há quem já se sinta desiludida com os homens.
Principalmente ao compará-los com os deuses. «Não sou capaz de namorar com ninguém porque gosto do Bill, por isso dou desprezo a todos os rapazes. O Bill é perfeito e, desde que gosto dos Tokio Hotel, não consigo pensar em mais ninguém. Enquanto tiver esta obsessão, vou estar sempre a comparar os rapazes com o Bill. As verdadeiras fãs são assim». Assim serão. Até passar de moda? «Para sempre!», gritam em uníssono. Rapazes, façam-se à vida.
Heinz
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