Indie nº44/2014

 

"Às vezes as nossas brigas ficam sérias"

Encontrámo-nos com os Tokio Hotel em L.A.



Bill e Tom Kaulitz - dois nomes que incorporam a histeria adolescente e as fantasias sexuais pré-adolescentes de uma audiência maioritariamente feminina de meados dos anos 2000, ainda que nessa altura o estilo emo nem sequer existisse. Com a sua banda Tokio Hotel, os gémeos idênticos subiram nas tabelas europeias sem quaisquer desvios, depois de abandonarem a escola e de se terem afastado da sua província perto de Magdeburgo. E o nome Kaulitz tem vindo a aparecer, desde então, e pelo menos uma vez por semana, nas colunas das revistas cor de rosa. Em 2010, o golpe final: foram para o anonimato de Los Angeles. Longe da Alemanha e dos seus fãs. E dos media. Um grande respiro depois de terem conquistado tudo o que havia para conquistar neste país. E mesmo antes de serem maiores de idade. Com o seu novo álbum "Kings of Suburbia", os Tokio Hotel estão de volta ao centro das atenções. Bill e Tom Kaulitz - dois irmãos, um regresso com 25.

Porquê esta longa pausa e de se terem mudado para L.A.?
Bill: Simplesmente não queríamos estar mais no centro das atenções. Entretanto o Tom já não tinha a certeza se queria continuar na banda e pediu-me para procurar por um novo guitarrista. Ele continuava a trabalhar connosco no estúdio, mas não queria estar mais no centro das atenções.
Tom: Voltámos a fazer algumas manchetes na Alemanha. Acabámos na primeira página de imensas revistas que falavam sobre algumas coisas da nossa vida privada - já não havia um meio termo: já não fazíamos manchetes com a nossa música, mas com qualquer coisa que fizéssemos ou deixássemos de fazer no nosso tempo livre. Esta foi a altura em que simplesmente já não queria continuar - queria sair. Nenhum de nós queria continuar nestas circunstâncias.
Bill: Além disso, já nem sequer sabia o que escrever mais depois do último álbum que lançámos, uma vez que já tínhamos falado sobre tudo o que queríamos falar nos álbuns anteriores. Já estava na hora de termos novamente a nossa vida privada, o que não era possível na Alemanha. Estava tudo fora de controlo. A certa altura, começámos a fugir da nossa própria carreira e já não queríamos mais ter a ver com os Tokio Hotel. O objectivo era termos tudo sob controlo outra vez e depois disso pensarmos em lançar outra vez um álbum.

Um novo começo com 21 anos de idade, numa cidade em que não conhecem ninguém, depois de terem sido perseguidos durante toda a vossa juventude por groupies - como é que se sentem ao voltarem a ter vida privada? 
Bill: Inacreditavelmente bem, somos capazes de fazer outra vez as coisas normais, como sair para beber um café a algum sítio ou simplesmente ir ao supermercado e encher o nosso próprio frigorífico com comida. Depois de deixar a escola com 15 anos, deixámos de conseguir fazer estas coisas. Esta é a primeira vez que conseguimos ter uma vida privada, uma verdadeira vida privada enquanto adultos desde que começámos a nossa carreira. Primeiro, era estranho porque não estávamos habituados, mas a certa altura começou a ser outra vez divertido, especialmente quando nos apercebemos que conseguíamos basicamente desaparecer em L.A., uma vez que ninguém sabe que estou aqui. Eu era apenas uma das imensas pessoas que andam pela rua. Antes, éramos 24h por dia os Tokio Hotel. Agora há um meio termo. Temos uma vida privada e só somos os Tokio Hotel quando trabalhamos. Acho que nunca tinha encontrado um meio termo como este. Tiramos algum tempo para reflectirmos, temo-nos descoberto enquanto pessoas. O que gostamos, o que não gostamos e quem é que somos. Temos hobbies - o que antes não era o caso. Se não se crescer e se desenvolver enquanto pessoa, também nunca se vai fazer nada disto enquanto artista. Olhando para trás, a pausa não só foi benéfica para a banda, mas também para nós enquanto pessoas. Já não conseguíamos continuar mais desta forma.

A casa que escolheram em Los Angeles parece ter tido uma grande influência no vosso novo álbum, que de certeza que Magdeburgo não conseguiria. 
Bill: Claro que não. Para mim, hoje, Magdeburgo é o completo horror. É uma cidade extremamente depressiva. Mas L.A. não tem muito a ver com o álbum. Para mim, é mais o contrário: tenho que dizer que L.A. é muito aborrecido. Acontece tudo tão cedo; os clubes nocturnos fecham às 2h da manhã - a vida nocturna na Europa é muito mais emocionante. O álbum reflecte a nossa vida privada com o grande luxo do anonimato.

Com o tempo torna-se mais fácil ou mais difícil fazer música enquanto irmãos?
Bill: Continua igual. Mas tenho que dizer que não temos aquela típica conexão que outros irmãos gémeos têm, mas que somos gémeos idênticos. É difícil explicar às outras pessoas que não somos apenas irmãos, mas que somos a mesma pessoa em diversos aspectos. Vivemos juntos e passamos todos os dias juntos desde os últimos cinco anos, mesmo sem os Tokio Hotel. 
Tom: A questão de se precisar de uma pausa um do outro ou de viver sozinho nem sequer se levanta. Fazemos tudo juntos e sabemos tudo sobre o outro - somos basicamente a mesma pessoa. Mesmo que geralmente eu seja o mais simpático de nós os dois.

Vocês vivem juntos - qual de vocês é que fica responsável por lavar a loiça? 
Bill: Nenhum de nós, nós os dois somos pessoas preguiçosas. Na maior parte das vezes, esperamos que a nossa empregada doméstica faça isso por nós. Mas se há algo importante para fazer, também fazemos juntos.
Tom: Mas sou sempre eu que conduzo o carro. O Bill nunca conduz. Sou sempre eu o condutor, o que é bom. Quando tenho que me sentar no banco de passageiro, enjoo. Odeio sentar-me no banco do passageiro com alguém a conduzir. Adoro conduzir carros, adoro conduzir motas e tenho que voltar a habituar-me a que alguém nos conduza quando voltarmos a estar em tour. Até preferia que fosse eu a conduzir o tour bus!

Então não há atritos entre vocês os dois?
Bill: Raramente. Não é como se nunca brigássemos. Quando brigamos, é mesmo à séria. De qualquer das formas, não ficamos ressentidos. A ligação entre gémeos idênticos é ligeiramente mais forte do que a que existe entre irmãos. E nós não sabemos como é ao contrário. Partilhamos todas as experiências um com o outro. Não há praticamente nada que eu possa dizer ao Tom e que ele não saiba porque ele esteve lá e vivenciou isso comigo. Vivemos uma vida completamente idêntica.

Qual é a coisa que gera mais brigas entre vocês?
Tom: Depende da situação; na maior parte das vezes é mais por causa do trabalho. Raramente brigamos por causa de coisas privadas. A parte positiva das nossas brigas é que eu conheço o Bill por dentro e por fora, por isso consigo provocá-lo até que as coisas dêem para o torto. Ninguém consegue provocar o Bill mais do que eu. Quando brigamos um com o outro, brigamos mesmo até que tudo fique tão alto e tão intenso, que as outras pessoas vão-se embora da sala com a cabeça vermelha.
Bill: As pessoas às vezes perguntam-se como é que que conseguimos olhar um para o outro depois de termos tido uma briga tão intensa, mas geralmente, depois de alguns minutos, a briga já está esquecida.

O álbum de regresso dos Tokio Hotel "Kings of Suburbia" foi lançado a 3 de Outubro (Universal Music).

Tradução (baseada no inglês): CFTH

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