L'Officiel Hommes nº04/2014 (Alemanha)

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Após anos de exilo, os Tokio Hotel estão de novo em digressão e a cultura de estabelecimento uiva. Chega de hipocrisia. Uma (leve) reverência à banda mais bem sucedida da Alemanha. 

Bill e Tom Kaulitz são uma provocação aos berlinenses conscientes do estilo que gostam de descer as páginas dos blogues de design e beber o seu extravagante café Late. Tokio Hotel, não, simplesmente não. Não é fixe, é provinciano. Isto não faz qualquer sentido na nossa equipa editorial.  


Não temos de comparar imediatamente esta banda aos Beatles como o "Der Spiegel" fez para saber o quão extraordinária e rápida foi a sua saída dos subúrbios alemães para um patamar internacional. O seu estilo continua a ser realmente especial nos dias que correm, mas é definitivamente distinto, não é o resultado de uma estratégia de marketing. Pelo menos, este repórter esteve raramente sentado com duas pessoas de 25 anos, muito agradáveis e reflexivos, num quarto de hotel caro apenas a conversar sobre a música e a vida. O tópico dos gémeos Kaulitz, que vivem em LA neste momento, é um clássico no mundo da música pop: mudarem-se da periferia para a grande cidade para ser livre lá. Ainda há poder nessa narrativa, mesmo que pareça um assunto desgastado. Isso reflecte-se no nome do novo álbum dos Tokio Hotel, "Kings of Suburbia“, que foi produzido e suado por eles próprios durante quase seis anos; este mostra a humildade deles perante a fama.  

Num dos primeiros dias do Outono, a Universal convidou-nos para uma entrevista no hotel Ritz Carlton em Berlim. Em frente ao hotel está um grupo de pessoas que viram o pescoço com inveja julgando todas as pessoas que conseguem entrar no lobby deste hotel remodelado. Sou levado até à suite da imprensa através de corredores sem janelas. Bill e Tom Kaulitz estão casualmente sentados à janela com vista para os telhados de cimento e o clima está calmo. Uma conversa sobre crescer nos subúrbios, a liberdade e a vida na metrópole.  

À pergunta de um jornalista, se vocês tiveram uma juventude normal, responderam "sim, claro que tivemos!" É difícil acreditar nisso. 
Bill Kaulitz (BK): Apenas notámos que não era o nosso caso enquanto progredíamos na carreira. Quando lançámos o nosso primeiro single "Durch den Monsun" aos 15 anos foi um enorme sucesso, ao contrário do que esperávamos. Não tínhamos qualquer plano na altura. Tornamo-nos famosos durante as férias de Verão de repente. Apenas reagimos. 
Tom Kaulitz (TK): Ao início era fantástico. Depois cresces e notas que não tinhas qualquer vida fora daquela bolha. Ontem queríamos ir ao bar do hotel e, após alguns segundos, tínhamos 1000 pessoas a espreitar pela janela. O empregado do bar fechou as cortinas e sentámo-nos sozinhos num canto de novo, tal e qual um jardim zoológico. Desta maneira não consegues tirar partido de nada na vida. 

Muitas celebridades notam isso tarde demais e acordam como alcoólicos aos 40 anos num desses bares de hotel. 
BK: É verdade, claro que há colegas que pegam apenas nisso e não querem mais nada. A nossa equipa também se tornou a nossa família e o nosso círculo de grandes amigos. 
TK: É a zona de conforto. Como alguém de fora és capaz de pensar "Mas de que se queixam eles?" mas o nosso objectivo é fazer música para o resto das nossas vidas. E só és capaz de fazer isso de forma saudável se encontrares um equilíbrio. Talvez um pouco como os Rammstein. Metade da banda tem uma vida familiar normal em Nova Iorque, eles são pais de família. E vão em digressão, aí são os roqueiros da pesada. 

Voltando atrás, quando se tornaram famosos durante o Verão, o vosso aspecto tornou-se, não normal, mas apresentável. Qual era o problema? 
BK: Claro que eu provocava o meu estilo quando era jovem, até ia para a escola assim e tinha sempre picardias com outros alunos e professores. Talvez até quisesse, de forma subtil, provocar para fazer uma declaração. Este sentimento de liberdade e auto-determinação são as coisas mais importantes para mim na minha vida. Não vou deixar que ninguém me diga que os homens não podem usar saltos altos, verniz ou rímel. Mas voltando à questão: Hoje li o que disseram sobre a nossa actuação no "Wetten, dass..." "A mulher sem mamas num fato de rede". Foi assim que me descreveram. Claro que não quero saber disso. Mas é óbvio que a minha aparência é provocadora. 

Tom, há este momento bonito e pessoal no making-off da vossa música "Run, Run, Run", onde o Bill te maquilha. Também estás vestido de forma pouco comum, mas o Bill está mais excêntrico. 
TK:  Completamente. 

Isso alguma vez foi tema de conversa entre vocês? 
TK: Não propriamente. Desenvolveu-se cedo connosco. Sempre fomos diferentes - já com 13 ou 14 anos de idade. 
BK: ... por vezes houve problemas. Antigamente o Tom era... 
TK: ... o teu extremo oposto. Eu era o punk rebelde, andava com camisolas do Che Guevara e rastas...  
BK: ... ele andava na sua fase punk e eu na minha fase de cabedal neoprene provocante. 
TK: Também era assim em palco. O Bill em cabedal e eu com t-shirts do Che Guevara. E todos pensavam: "Digam-me que raio de banda é aquela!" E as pessoas ainda pensam assim hoje. 

Vestirem-se de forma excêntrica num subúrbio não deve ser fácil... 
TK: Primeiro mudámo-nos de Hannover para Magdeburgo e andámos na escola lá. Já na escola primária nos vestíamos de forma diferente. Magdeburgo é uma cidade onde as pessoas não têm propriamente sentido de estilo, mesmo assim conseguimos passar. Quando os nossos pais se mudaram para a vila connosco nessa altura era um pouco, vamos dizer pelo menos, hardcore. 
BK: Era demasiado louco. Hoje olho para trás muitas vezes e relembro esses tempos. Como uma criança e adolescente não pensas muito, tens sempre uma grande auto-confiança. Posso dizer que fico contente por não me terem partido a cara toda. 
TK: Faltou pouco para isso. 

Sofreram de violência? 
TK: Claro, o nosso padrasto tinha por vezes que... 
BK: ... ir buscar-nos com o cão e um taco de basebol. E todas as manhãs no autocarro, as pessoas olhavam para nós como se fossemos extraterrestres. Queria sair dali o mais rápido possível. Isso era mesmo verdade. Queria sair dali o mais rápido possível. Queríamos ir para a grande cidade. Preferencialmente Berlim. 

É quase clássico. Tal como o Lou Reed e o John Cale cantavam, "There's only one good thing about a small town, you know that you wanna get out" (pt = Há apenas uma coisa boa sobre viver numa cidade pequena, é que sabes que queres sair de lá). 
TK: Completamente. Não tínhamos outro desejo. É por isso que actuávamos todos os fins de semana como banda, queríamos ser famosos para que, um dia, pudéssemos viver da nossa música.

Como imaginam uma troca de papéis entre vocês? 
BK: No que toca à banda, é o Tom que agora quer saber de tudo o que tem que haver com a música. Quer seja produção no nosso próprio estúdio em LA ou nas actuações ao vivo. Eu prefiro tratar do visual das coisas, ver que entrevistas queremos dar e com quem queremos fazer um vídeo ou fotografar. 
TK: Na nossa vida privada penso que eu sou o mais responsável e o Bill o mais sensível. Tenho sempre de levar o Bill de carro. 
BK: O nosso bisavô chamava sempre o Tom de parte e dizia-lhe "Tom, não deixes o Bill conduzir o carro". 
Ambos: "... e toma sempre conta do dinheiro!" 
TK: Ele fez 104 anos e disse isto até ao fim da sua vida. Realmente, ele até tem razão. 

Não conseguiriam viver um sem o outro? 
TK: Não, compensamo-nos um ao outro. 
BK: Mas temos que concordar que o tom é ainda mais dependente de mim. 
TK: Acho que o Bill se tenta convencer disso. 
BK: Não, isso não é verdade! Todos os nossos amigos dizem isso. 
TK: Eles apenas dizem isso porque acham que tem piada. 
BK: Até é fofo. Ele não faz nada sem mim. Posso viajar sozinho para Nova Iorque durante uns dias mas, quando o avião aterra, já tenho 20 mensagens do Tom: "E? Fizeste boa viagem? Manda-me fotografias, sim? Da próxima vez vou contigo." 
TK: Claro, isso é porque me preocupo. Ele agora está a interpretar isso como se eu não conseguisse fazer as coisas sozinho. Mas para mim é mais um síndrome de irmão mais velho. 
BK (ri): Que mentira! 
TK: Tinha sempre de o proteger quando alguém lhe queria bater. 
BK: Oh, que mentira! 
TK: Podias ao menos admitir! 

Sempre tomaram contra do vosso management, ainda mais quando construíram um estúdio em LA. Também podemos ver isso como uma liberdade mas também como uma grande responsabilidade. 
BK: Completamente. Mas eu e o Tom sempre tivemos a língua comprida. Quando tínhamos 13 anos já nos sentávamos à mesa nas reuniões com a Universal. Com 15 anos já geríamos uma grande empresa. Temos advogados, consultores fiscais, gerentes. Todos estão na conta de pagamento e és responsável por ela. Claro que consegue ser extremamente extenuante. Mas se algo correr mal, pelo menos sabemos de quem foi a culpa. 

Depois de tanto tempo em digressão, mudaram-se para Los Angeles há algum tempo. Por favor, descrevam o que acham do local. 
BK: Das primeiras vezes que fomos a LA pensámos "Fantástico, férias!" Mas para mim é mais uma cidade para onde vais quando acabas de trabalhar, quando só queres passar a vida a relaxar. TK: Em LA é assim. Sais, encontras-te com os amigos e amigos dos amigos e tens de lhes contar o que de bom te aconteceu na vida. Não há cidade nenhuma que se deixe levar tanto pelo "sucesso" como LA. Estamos sempre a falar de famosos e pessoas bem sucedidas. 
BK: Encontras-te com as pessoas e começas a comparar os teus seguidores no Twitter, amigos no Facebook e os "gostos" no Instagram. Sentávamo-nos ali e pensávamos se alguém se aproximaria de nós. 

Como é que a cidade vos influenciou visualmente? 
TK: Em público digo sempre que a cidade nunca nos influenciou. Mas claro que acordar lá é diferente. Está sol o dia inteiro. O céu está sempre azul e as ruas cheias de palmeiras. 
BK: Mas LA não é uma cidade da moda. É isso que me chateia. Toda a gente anda de chinelos de meter o dedo, calções e camisolas de manga à cava. Tens de ter cuidado para não te deixares levar pelo estilo de LA. Nova Iorque é muito mais inspirados neste sentido. 

Na Alemanha as pessoas que se interessam por moda são normalmente estúpidas ou superficiais. 
BK: Mas a moda é muito importante. Para mim anda de mãos dadas com a música. A moda faz algo por ti. Criar um estilo deixa-me sempre com um humor especial. Mas nunca nos devemos vestir "de menos". É por isso que não queremos que o Georg e o Gustav vistam roupas estranhas que os faria parecer completamente estúpidos. O Gustav não dá uma para a caixa no que toca a moda. 
TK: E para o Georg o mais importante é se a sua camisola não está demasiado comprida, caso contrário, seria complicado para ele tocar baixo. 

Trabalharam durante quase seis anos no vosso mais recente álbum. Como é que a vossa música mudou neste tempo? 
TK: Durante a criação do álbum lidámos muito com o design do som, sintetizadores e efeitos. Como produzir uma música fantástica, que bombo usar, que som cativante usar. Isto era muito entusiasmante e levou-nos a outro nível. Ensinamos a nós próprios quase todo desde o início. Nenhum de nós aprendeu a tocar um instrumento profissionalmente. Ninguém toca a partir de partituras. Tive a minha primeira guitarra aos 7 anos de idade e comecei a tocar de ouvido e por sentimento. Normalmente tenho a sensação de que é isso que os profissionais fazem. E todo este conhecimento também nos pode empatar no caminho. 
BK: É por isso que a música sai de moda rapidamente. É parecida à atitude dos músicos alemães no início dos anos 80. Bateristas como o Robert Görl dos DAF disse que tinha saído do conservatório e que tinha de esquecer tudo o que aprendeu. 
TK: Sim, exacto! Por vezes torna-se técnico demais. 
BK: Eu tive aulas de canto de vez em quando. Mas desistia logo após a primeira aula. Começava assim  "no palco têm de ter a postura de um cartão". Tu estás ali e pensas  "O quê? Estou a usar um casaco enorme e corro daqui para ali, não quero saber se tenho de ter uma postura de..." 
Ambos: "... cartão!" 

Também na moda e na fotografia tens a impressão que as pessoas começam a dar menos retoques. 
BK: É verdade. As pessoas abusavam sempre no retoque mas precisa de parar. Caso contrário todos nos tornaremos robôs e tudo se torna artificial. 
TK: As pessoas acham que é uma contradição o que dizemos porque acham que o nosso álbum é tão electrónico que já não é puro. Mas não é mais fácil tocar num sintetizador do que numa guitarra. E na guitarra não é necessariamente mais natural que um sintetizador. 

Ainda há aquela pressão de quererem estar sempre em primeiro nos tops musicais? 
BK: Estamos mais calmos nos dias que correm. Afinal já é o nosso quarto álbum. 
TK: Para nós é mais a soma das posições nos tops musicais que conta. O mais importante para mim é trabalhar neste álbum durante muito tempo. Custou-nos muita energia para o fazer. É por isso que queremos lucrar com ele o máximo que pudermos.

Tradução: THF

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